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Instituto

Alcuíno de York

Cultura, Ciência e Educação à Luz da Tradição

Foto do escritorYuri Oberlaender

Escada do Amor: síntese da educação filosófica em Platão (Parte II)

Atualizado: 1 de out.

O coração da filosofia


Três diálogos platônicos revelam, com especial clareza, a estrutura da educação filosófica: o Banquete, a República e o Fedro (não por acaso, três dos diálogos mais belos, e mais lidos, de todo corpus platonicum). Em cada um deles encontramos uma imagem, pela qual podemos ver essa estrutura: no Fedro, encontramos a biga alada com a parelha de cavalos (um obediente e outro desobediente); na República, a caverna, com seus prisioneiros e seu caminho íngreme em direção ao Sol; no Banquete, a bela escada do amor (ou scala amoris) a conduzir o amante da beleza material em direção à Beleza espiritual. Para compreender a estrutura comum que perpassa essas imagens, vejamos alguns de seus detalhes.


  1. Lá e de volta outra vez


O Banquete nos encanta com a revelação de Diotima, sacerdotisa conhecedora da arte de amar. Nessa revelação ela descreve a escada do amor (211 c-d), que é por onde aquele despertado pela beleza cá embaixo deve conduzir-se. Para Diotima, o amor humano, despertado pela visão da beleza terrena, contêm, em germe, um desejo profundo, impossível de ser saciado por quaisquer objetos ou pessoas cá embaixo. Portanto, ao apaixonado, abrem-se dois caminhos: a busca insaciável em atender seu desejo através das “belezas” do mundo, ou o aprofundamento de seu amor através da scala amoris. Ele terá de compreender as belezas cá de baixo como degraus através dos quais seu amor pode ascender até chegar ao cume dessa escada: onde está a Beleza-em-si, ou Ideia do Belo. A contemplação dessa Ideia dará a medida correta daquilo que merece ser amado, ou não; de volta ao mundo cá de baixo, poderá desprezar as falsas belezas, na medida em que seu coração for fiel à Beleza real.


Na alegoria da Biga (Fedro, 246 a – 250 c), Sócrates descreve a estrutura da alma humana comparando-a a uma biga de cavalos alados (um belo e bom e outro feio e mau) e um auriga, cuja missão é comandar esse veículo desigual. Sua condução mira chegar ao “lugar supra-celeste” (247 c), que também pode ser chamado de “lugar inteligível”, ou ainda, “campina da verdade” (tó aletheías pedíon, 248 b). Esse local é a habitação das Ideias, ou seja, das manifestações do Ser Supremo; a alma que até ascende contempla o “espetáculo do Ser” (248 b), que lhe serve de alimento. Em seguida, por inépcia do condutor, e pela dificuldade em lidar com a dualidade dessa biga ( um cavalo puxando pra cima e o outro pra baixo) a parelha alada termina por cair, de modo a encarnar em um “corpo de barro” (246 c). Em seguida à queda, sobrevém o esquecimento daquele “fragmento de coisas verdadeiras” (248 c). A esperança dessa alma caída será, pelas belezas cá de baixo, lembrar-se daquela campina supra-celeste; através dessa reminiscência, ela poderá resgatar suas asas e, novamente, ascender e contemplar o lugar inteligível.


A carruagem de Apolo, de Odilon Redon

Na República (livro VII), Platão compara o efeito da educação na natureza humana à libertação de um prisioneiro, habitante em uma caverna de sombras desde a infância. Tomava as sombras por seres concretos e a luz de uma fogueira pela luz do Sol; uma vez liberto, terá de reorientar sua visão, gradativamente, até a luz real. À medida que progredir nessa conversão, subirá por um “caminho íngreme e escarpado”, até chegar ao cimo desse trajeto e contemplar a fonte real de toda luz: o Sol, símbolo da Ideia do Bem. Tendo contemplado essa maravilhosa fonte, não poderá permanecer, acreditando-se já instalado na “ilha dos bem-aventurados”; terá de descer novamente, de volta à caverna escura e recheada de ilusões, retornar ao reino do lusco-fusco. Terá de voltar para auxiliar seus companheiros, para doar-se em prol da luz que pôde contemplar.



“Alegoria da Caverna de Platão”, por Jan Saenredam”

Através desses três resumos, podemos apreender uma estrutura que os perpassa: 1- a necessidade de ascender, partindo de uma região inferior, limitada e material, em direção a uma região superior, ilimitada e espiritual (meta-física, i.e. além do físico); 2- lá chegando, é preciso contemplar as Ideias; 3- tendo contemplado o suficiente, é preciso descer = Lá e de volta outra vez.


Por sua simplicidade, escolho a escada como símbolo dessa estrutura. Ascensão, contemplação e descida são três momentos de uma mesma jornada, a jornada metafísica. Essa jornada é a própria educação filosófica, é a própria filosofia: o filósofo é quem exercita a ascensão, a contemplação e a descida, através da escada do amor.


  • A escada ascendente: filosofia em três tempos



A escada de Jacó, de William Blake

A escada filosófica, assim como a escada de Jacó, liga a terra ao céu, o mundo material ao mundo espiritual. O filósofo é aquele que assume o dever de constantemente re-atualizar as ações que compõe essa escada. Esse compromisso existencial, a um só tempo moral, intelectual e afetivo, talvez ganhe sua expressão mais feliz na fórmula de Pierre Hadot [1]: exercício espiritual. A filosofia platônica é um exercício espiritual. Desse exercício, podemos destacar três momentos:


Ascensão


Ascensão é ascese: uma disciplina da atenção, uma concentração cujo objetivo é purgar a mente de suas ilusões. Essas ilusões podem ser resumidas em uma só: acreditar-se o criador da verdade. O intelecto tomado pelo orgulho, corrompe-se: ao invés de abrir-se ao que há além, fecha-se em si próprio, num ensimesmamento labiríntico e autofágico. A integridade intelectual (sua saúde) consiste em abertura. A verdade já é (está aí), a tarefa do filósofo é descobri-la.  Esse é o sentido da palavra grega Alétheia (ἀλήθεια: verdade, no sentido de des-velamento, de a-, negação, e lethe, “esquecimento”) [2]. Existe a verdade; o desejo profundo do intelecto humano é des-esquecê-la, des-cobri-la, encontra-la, reconhece-la.


Ascese é a busca dessa abertura, que requer um esvaziamento. Mais do que uma coerência lógica, a ascensão pede uma purificação da intenção, de modo a se desejar a Verdade, se desejar o Bem, ainda que ele desmanche todo o meu castelinho de pensamentos, ainda que reduza ao pó a rede intricada de meus raciocínios. É um desejo abnegado, desinteressado. A ascese é um exercício cujo objetivo é tornar-nos dóceis à verdade. Mas abdicar daquilo que acredito ser certo em prol do Certo, nem sempre é fácil. A obsessão em estar certo é sintoma da ausência de uma pergunta fundamental: será que, de fato, estou certo?



A ascensão do espírito, Vladimir Kush

Contemplação


A palavra contemplação vem de contemplatio, tradução latina da palavra grega theoria. Contemplar não é criar raciocínios ou sistemas, não é inventar éticas, nem deslizar suavemente em retóricas; é “o simples olhar (simplex intuitus) fixado com amor sobre a Verdade” [3]. É o olhar despojado do ego: desinteressado, autotranscendente, limpo. O filósofo não é um pensador, o que procura é o contrário do pensamento. Está além de sua razão, não é sua invenção. A contemplação é um êxtase (do grego ekstasis, formado de ek (fora ou além) e stasis “em pé, estatura” ou “parado, estacionário” = sair de si, estar além de si) que pode ocorrer desde as percepções sensoriais até a contemplação da realidade espiritual. Nesse sentido, ela pode ser exercitada, partindo da contemplação da natureza física até alcançar realidades mais altas.



Espantados com a beleza do mundo, admirados com a corrente de causalidades por detrás dos fenômenos, os filósofos saem em busca do tutano vital. Da “Arché” cósmica (pré-socráticos), da “Ideia do Bem” (Platão), do “Primeiro motor” (Aristóteles), da “Coisa em si” (Kant), do “Lógos Encarnado” (Cristãos), do “Sentido” (Frankl): saem em busca “daquilo que se impusesse mesmo a um pensamento incapaz de pensá-lo; [de] algo que eles não pudessem inventar” [4]. O ápice da mente humana (apex mentis), segundo Platão, não é sua capacidade raciocinativa (dianoia); é sua abertura contemplativa (nous). Os filósofos querem transcender a dianoia em direção ao nous.


Qual a diferença entre essas duas formas de apreensão? Na alegoria da Linha (Rep. 509 d- 511 e), Platão descreve a dianoia como sendo a investigação que toma hipóteses por princípios em busca de conclusões coerentes. Já o nous, ao invés de seguir o curso natural do pensamento (caçando conclusões a partir de hipóteses), desapega-se de suposições e abre-se ao “Dado”, em busca do princípio real. Para fins contemplativos, vale mais uma cabeça oca à uma cabeça cheia de ideias.


Segundo Abbagnano, o uso que Platão faz da palavra dianoia equivale àquilo que entendemos por razão discursiva, indicando “o procedimento racional que avança inferindo conclusões de premissas” [5]. São Tomás de Aquino identificará a dianoia ao conhecimento caracteristicamente humano, opondo-o à ciência intuitiva de Deus que, segundo o filósofo, “entende tudo simultaneamente em si mesmo, com um ato simples e perfeito de inteligência” [6]. O nous é a participação (o tanto possível ao homem) dessa ciência intuitiva,corresponde àquilo que podemos entender por intelecto intuitivo. Aristóteles considerava-o o meio pelo qual se pode apreender (intuitivamente) os primeiros princípios, mediante os quais a razão discursiva poderá operar [7]. A partir dessas definições, a contemplação (nous) pode ser entendida como a apreensão intuitiva, imediata (no sentido de não mediada), de princípios que transcendem quaisquer raciocínios. Josef Pieper, em seu livro Leisure as the basis of culture,tratando da tradição clássica da filosofia diz:


Os medievais distinguiam entre o intelecto como ratio e o intelecto como intellectus. Ratio é o poder do pensamento discursivo, de pesquisa e re-pesquisa, abstração, refinamento, e conclusão [cf. o latino dis-currere, “correr para e de”], já o intellectus refere-se à habilidade de “simplesmente olhar” (simplex intuitus), para a qual a verdade apresenta-se a si mesma como uma paisagem apresenta-se aos olhos. O poder de conhecimento espiritual da alma humana, como os antigos a entendiam, é, de fato, duas coisas em uma: ratio e intellectus, todo conhecer envolve ambas. O caminho da razão discursiva é acompanhado e penetrado pela vigorosa visão do intellectus, que não é ativo mas passivo, ou melhor, receptivo – um poder receptivo operante no intelecto (…) Isso significa que o conhecimento humano é uma participação no poder não discurso da visão [intelectual] [8].


E qual é o conteúdo dessa contemplação? Em Platão, o “objeto” máximo a ser contemplado é a Ideia do Bem. O que é a Ideia platônica? Em primeiro lugar, é preciso distanciá-la do uso corrente da palavra ideia. Usualmente, ela designa um produto mental, um epifenômeno da consciência. Dizemos: “qual sua ideia a respeito de tal coisa?” Com isso, queremos saber: “que pensas? qual tua opinião?”. A Ideia platônica é justamente o contrário disso. Ela existe por si só, independente do pensamento, definitivamente não é uma lucubração da mente humana:


Assim como o amor autêntico não cria seu objeto, as aspirações humanas também não fundam as Formas. “Deus é a medida de todas as coisas”, o Bem produz a verdade e a “faculdade de conhecer”. As Formas nada devem ao nosso “entusiasmo”, ao nosso “sentimento religioso”, elas não são o “ideal” que nós forjamos. As realidades divinas se deixam apreender, mas elas existem, mesmo que não houvesse nenhuma alma para aspirar a elas. [9]


A Ideia do Bem é quem dá verdade às coisas conhecidas e o poder de conhecer ao cognoscente, além de dar o ser a ambos. Por isso, Platão a compara ao Sol, pois o astro rei ilumina, torna visível o que sem ele não seria e dá a existência ao que vê e ao que é visto. O olho não cria o claro/ é o Claro quem dá a vista. A vida intelectual acessa, des-cobre, um reino de sentido e verdade aonde há um Rei que tudo domina. Platão o chama de Ideia do Bem.



Santo Agostinho, retratado por Philippe de Champaigne

Não entendo que a verdade a ser encontrada nesse reino luminoso seja uma fórmula fria, um código cibernético, ou coisa que o valha. O eros filosófico deseja a sabedoria. Nesse sentido, a verdade captada pela contemplação é orientação existencial e alimento espiritual. É pensamento e sentimento, integrados em uma vivência pessoal da luz. No que diz respeito à esse páthos, à emotividade presente na experiência contemplativa, vale lembrar as palavras de Lavelle:


“Há na vida momentos privilegiados em que parece que o Universo se ilumina, que a nossa vida nos revela sua significação, que queremos o destino mesmo que nos coube como se nós mesmos o tivéssemos escolhido; depois o Universo volta a fechar-se, tornamo-nos novamente solitários e miseráveis, já não caminhamos senão tateando num caminho obscuro onde tudo se torna obstáculo aos nossos passos. A sabedoria consiste em salvaguardar a lembrança desses momentos fugidios, em saber fazê-los reviver e fazer deles a trama da nossa existência cotidiana e, por assim dizer, a morada habitual do nosso espírito.
Não há homem que não tenha conhecido tais momentos, mas ele os esquece depressa como um sonho frágil, pois ele se deixa captar quase imediatamente por preocupações materiais ou egoístas que ele não consegue atravessar ou ultrapassar, porque ele pensa reencontrar nelas o solo duro e resistente da realidade. Mas aquilo que é próprio de uma grande filosofia é reter e reunir esses momentos privilegiados, mostrar como são janelas abertas para um mundo de luz cujo horizonte é infinito, do qual todas as partes são solidárias e que está sempre oferecido ao nosso pensamento e que, sem jamais dissipar as sombras da caverna, nos ensina a reconhecer em cada uma delas o corpo luminoso do qual ela é a sombra.“[10]

Ah, os momentos privilegiados… onde nosso coração se afina ao compasso da Vida; haverão palavras para descrevê-los? Esses instantes, onde o Divino deixa de ser um conceito abstrato para ser uma vivência concreta, visceral. Não serão esses momentos, apesar de fugidios, o pão, a água, a substância da Vida? Não compõem, unidos, o enredo íntimo de cada um, a trama redentora do grande Tecelão, ponto a ponto fazendo cumprir o destino final do homem: “assimilação a Deus” [11]? Eis a sabedoria necessária: conservar esses momentos na memória, fazer deles nossa morada habitual.


Descida


Que dificuldade para o homem tirar a consequência prática de sua convicção intelectual, quando esta lhe exige um sacrifício! Quão longo o caminho que vai da cabeça ao coração!”[12]

Da cabeça ao coração, não faz sentido que o resultado prático da contemplação seja uma fuga à vida mundana, em direção (por exemplo) a um isolamento idílico nas montanhas. Como o encontro com o Bem poderia resultar em irresponsabilidade? Do contrário, Sócrates ordena aos filósofos: voltem à caverna!


Depois da iluminação, as louças pra lavar. A brancura da torre de marfim não salva; é o sangue do sacrifício quem salva. A realidade espiritual não deve servir de desculpa à fuga das responsabilidades corriqueiras; ao contrário, sua contemplação dá um sentido transcendente às tarefas cotidianas e até ao sofrimento. A verticalidade do mundo espiritual dá um norte ao horizonte da vida cotidiana. A poesia celeste infunde alma na prosa diária. O filósofo vencerá a tentação de dissolver-se em geléia cósmica, abraçando os sacrifícios da vida, em prol do Bem.

A filosofia, como o coração, vibra em sístole e diástole: subida e descida, ratio e intellectus, ginástica e música, theoria e práxis. A ascensão é práxis preparatória, a theoria é o cume contemplativo, a descida é a práxis resultante. E assim, gradualmente, o filósofo sobe a escada ascendente.


A cada ciclo vencido, a cada degrau galgado, aproxima-se (como na escada de Jacó, pintada por Blake) da fonte suprema de todo saber, do “rei de todas as coisas” [13]:centro e altura iluminando os esforços dos amantes da sabedoria.


_____________________________


[1] Pierre Hadot é conhecido por entender a filosofia antiga como sendo um exercício espiritual, com esse termo quer dizer que o filosofar envolve, em sua acepção clássica, todas as dimensões do ser humano (intelectual, afetiva, moral), além de configurar-se como um modo de vida, uma escolha existencial de profundas consequências. Cf. O que é filosofia antiga? (Editora Loyola); Exercícios Espirituais e Filosofia Antiga (É Realizações).

[2] Recentemente essa etimologia foi relembrada, no discurso de nosso ministro de estado das Relações Exteriores, o embaixador Ernesto Araújo. É um discurso emocionante, que caminha do grego ao tupi, vale a pena conferir. Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=prT5npDcDhY.

[3] AQUINO, São Tomás. Suma Teológica, II-II 180,3,resp.1.

[4] CARVALHO, Olavo de. Artigo: Os pensadores e o êxtase.

[5] ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia, pg. 339.

[6] ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia, pg. 339.

[7] ARISTÓTELES, Ética a Nicômaco, VI, 6, 1140b 31 ss.

 [8] PIEPER, Leisure as the basis of culture, p. 32 – 33.

[9] GOLDSCHIMIDT, Victor. A religião de Platão, pg. 30-31.

[10] LAVELLE, Louis. “Témoignage” (Testemunho), apêndice do livro De l’Intimité Spirituelle (Da Intimidade Espiritual), disponível em: http://classiques.uqac.ca/classiques/lavelle_louis/intimite_spirituelle/intimite_spirituelle.pdf.

[11] Encontramos essa expressão curiosa no diálogo Teeteto: “Daqui [impossibilidade de destruir o mal] nasce para nós o dever de procurar fugir o quanto antes daqui [terra] para o alto. Ora, fugir dessa maneira é tornar-se o mais possível semelhante a Deus (homoisis theoi- assimilação a Deus); e tal semelhança consiste em ficar alguém justo e santo com sabedoria” (176a-b). Que Deus é esse, que foge do mundo? Estará Sócrates falando a sério? Ou estará esperando que o leitor pule da cadeira e fale: “Epa, que deus mixuruca é esse que queres que eu imite?”. O texto platônico é vivo, pois convida o leitor ao diálogo.

[12] CONTI, Sabino Lino. Cintilações. Ed. F.T.D. 1966.

[13] Apesar de não haver consenso, entre os comentadores, quanto à autenticidade dessa carta, a expressão platônica continua fascinante e, a meu ver, coerente com o projeto platônico e com a tese de Platão ser um cristão avant-la-lettre. Eis o trecho: “[Platão dirigindo-se a um interlocutor] Segundo o relato dele, de fato, você afirmaria que não teria lhe ficado clara a natureza do Primeiro: será então necessário que o conduza eu mesmo neste assunto, mas por meio de enigmas, para que, no caso em esta carta cair em algum canto do mar ou da terra, quem a for ler não possa compreendê-la. Eis como estão as coisas. Em torno ao rei de todas as coisas, todas as coisas estão; todas existem graças a ele, e ele é causa de todas as coisas belas (Carta II, 312 d-e)”. 


Yurio Berlaender é licenciado em Filosofia e Mestre em Filosofia Antiga pela UFSC, foi professor na rede pública de ensino médio. Seu foco de estudo é a filosofia de Platão, área em que reconhece como mestre o prof. William H.F. Altman. Atualmente trabalha na elaboração de projetos na área de educação e escrita criativa, através de sua empresa individual: Ânima & Côre.


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