Educação Liberal II: O que é Educação Liberal?
- Thiago Brum Teixeira
- 9 de mai. de 2017
- 5 min de leitura
Atualizado: 26 de dez. de 2024
Para que haja educação é preciso ter um modelo, um norte, uma referência, ou seja, responder a pergunta: Que ser humano queremos educar? Qual seria o homem ideal, o qual seria a referência para toda educação? Na cultura cristã este Homem Universal está simbolizado em Jesus, o qual encarna as virtudes máximas que podemos aspirar. Este Homem Universal também pode ser simbolizado, em seus diversos aspectos, pelos heróis, sábios e santos de todos os tempos e culturas, sendo estes, modelos da educação para as virtudes cristãs.

A Educação Liberal é a educação para a excelência humana que remonta as aspirações da alta idade média: o cavalheirismo perfeito, uma educação que tem como modelo heróis, sábios e santos que em sua expressão máxima e universal se condensa na figura do Divino Mestre Jesus. Tal educação busca encontrar a grandiosidade humana, sua transcendência, que é onde o homem se encontra com Deus.
Tanto para Platão quanto para os sábios cristãos, como Agostinho de Hipona e Alcuíno de Yorque, a educação é o sentido mais alto da filosofia, sendo esta a busca da sabedoria, a busca pelo conhecimento das coisas mais altas, mais importantes e universais. Este conhecimento e sabedoria são para eles a virtude e a felicidade, o objetivo da verdadeira filosofia e, portanto da educação [1].
Desde a antiguidade até a idade média o método usado para este tipo de educação é aquele chamada de liberal, mas não no sentido econômico e nem mesmo político, e sim no sentido do homem livre, do qual derivou as chamadas profissões liberais que se opõe às servis. As profissões liberais eram exercidas num ato de liberdade do indivíduo, como sacerdócios e com fim em si mesmas e não apenas com objetivos financeiros, dos quais se caracterizavam as profissões servis. Um advogado ou médico da idade média tinha o dever de atender os necessitados que os procurassem, independentemente de pagamento. Não sendo possível se precificar a saúde e a justiça, as pessoas que eram atendidas pelos médicos e advogados voluntariamente contribuíam com o que podiam. A esta forma de pagamento era dado o nome de honorários, como forma de retribuir a honra destes profissionais.
A Educação Liberal consistia inicialmente no Trivium e Quadrivium, que buscava fornecer os meios de compreensão de si, da sociedade, do mundo e de Deus, bem como os meios de expressão, participação na cultura e o senso de proporções, de apreciação e encantamento das formas universais do mundo. Em síntese, era uma educação para a formação do caráter e do gosto, ética e estética, sendo a fonte desta educação os grandes poetas.
O homem livre se opunha ao homem servil ou ao escravo, essa liberdade consistia em ter algum tempo ocioso onde podia empregá-lo no que quisesse, inclusive na própria educação, onde o mesmo a escolhia por sua própria vontade. Por outro lado era liberal por visar à plenitude das potências do espírito, o conhecimento e a sabedoria e não um fim exterior ao homem.
Atualmente muitos dizem educar para a paz no mundo, para uma sociedade justa, para o desenvolvimento, ou para a cidadania, e tudo isso nada tem de educação liberal, porque faz do homem um meio para outro fim externo a ele, o que é mais uma programação do que uma educação. Assim a educação fica submetida a interesses efêmeros, políticos e econômicos e o professor e estudante sem o saber se tornam servos deste processo [2].
Na Educação Liberal o homem é um fim em si mesmo, é liberal por dar a liberdade a ele, o preparar para ter o poder de fazer suas próprias escolhas, por sua consciência. O conhecimento e a riqueza de experiências resultado da educação liberal é o que podemos chamar de maturidade ou mesmo sabedoria. A sabedoria é o que irá qualificar o homem livre e maduro para que faça as melhores escolhas. Ser livre é ter condições de fazer as melhores escolhas.
Para Olavo de Carvalho a educação liberal é:
“a preparação da alma para a maturidade. O homem maduro é o único que está capacitado a fazer o bem para o meio em que está. Porque o bem também tem que ser conhecido. O discernimento entre o bem e o mal não vem pronto; não adianta ter um formulário, os dez mandamentos ou ter o código civil e penal. Isto não resolve muito. O bem e o mal são uma questão de percepção, que tem que ser afinada para cada nova situação que você vive, porque costumam aparecer mesclados. Jesus disse: na verdade amais o que deveríeis odiar, e odiais o que deveríeis amar. Este é todo o problema da educação, desenvolver no indivíduo, mediante experiências culturais acumuladas, a capacidade de discernimento para que ele saiba em cada momento o que deve amar e o que deve odiar. Ninguém pode dar essa fórmula de antemão, mas a possibilidade do conhecimento existe e está consolidada em milhões de documentos. Uma educação bem conduzida pode levar o indivíduo à maturidade do verdadeiro julgamento autônomo.” [2]
Então, a Educação Liberal é o cultivo do espírito, das potências ou faculdades da alma, visando à sabedoria, para que o homem seja capaz de discernir o bem do mal e fazer as melhores escolhas. Com essa definição fica evidente a profundidade e complexidade da Educação Liberal, por não se tratar só de transmissão de conhecimentos, mas de conduzir os estudantes para elevadas experiências interiores, que enriquecerão seu imaginário e ampliarão o poder de suas capacidades de compreensão.

A sabedoria seria o conjunto de experiências sublimes e universais que permitirá o indivíduo discernir o mal e o bem, o feio e o belo, a mentira e a verdade e a maldade e a bondade. Todas essas coisas vivem misturadas e são comumente confundidas pela mentalidade vulgar. Para ter o poder de reconhecê-las é preciso ampliar a memória, entendida aqui como faculdade do espírito, ampliando o imaginário com experiências diversas, que se manifestaram pelo querer na forma da virtude e de uma pratica fiel do bem. A experiência acumulada na memória que é transformada em sabedoria também será a base para que a luz do entendimento humano brilhe e ilumine todo o ser e seu entorno com o que chamamos de inteligência. Como adquirir tais experiências é o que veremos no próximo texto O Ensino Clássico, o terceiro da série: Educação Liberal III: O Ensino Clássico.
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[1] ALCUÍNO de York. De vera philosophia. In: RIVAS, R. Alcuíno de York: Obras Morales. Espanha: EUNSA, 2004.
[2] CARVALHO, Olavo. Comunicação oral. Rio de Janeiro, 18 de Outubro de 2001. Disponível em: www.olavodecarvalho.org/palestras/2001educacaoliberal.htm.
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